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A
ferramenta do humor
por Jacqueline
Miller HSM Management
nov-dez1997
Atitudes
como rir e deixar rir ajudam a implementar o empowerment nas empresas.
Qual
é o traço comportamental mais evidente dos funcionários e chefes de empresas
que delegam poder? Por mais inusitado que pareça, acertou quem respondeu humor.
Companhias comerciais e de serviços, órgãos governamentais e outras
organizações estão descobrindo que somente um ambiente que incentiva
brincadeiras e risadas é capaz de incorporar o empowerment.
A explicação é simples, segundo a autora deste artigo: o humor liberta a
"criança interior" de cada um, aquela que acredita ser possível
fazer tudo que se quer neste mundo. Assim, ajuda as pessoas a tomar iniciativas,
desenvolver a criatividade, comunicar-se melhor e também aprender mais
facilmente. Além disso, funciona como poderoso antídoto contra a crescente
tensão provocada por programas de melhoria contínua. Já há empresas
contratando comediantes para elaborar programas de empowerment.
O humor
é o traço marcante dos profissionais das organizações que realmente adotam o
empowerment:
Nesses
locais, é sinônimo imediato de risadas e brincadeiras e acaba se traduzindo em
funcionários que se sentem livres, criativos, estimulados e reconhecidos.
Existe nesses casos aquilo que eu chamo de celebração consciente e contínua
do ser humano, e é a própria organização que oferece o salão para a festa.
Quando
eu era diretora de treinamento de um grande centro médico do Centro-Oeste (dos
EUA), fui encarregada de solucionar problemas de moral baixo da equipe de
enfermagem que cuidava dos pacientes. Embora achasse a tarefa muito difícil,
estudei as possibilidades. Naquele momento, especialistas de várias partes do
país começaram a divulgar suas conclusões sobre o expressivo impacto do humor
na saúde e no bem-estar de pacientes. Depois de muitos livros, workshops e
discussões, pude absorver valiosos ensinamentos da pesquisa conduzida por meus
"colegas de humor" e usei essa base no primeiro "playshop"
(trocadilho de workshop com o verbo "brincar" em inglês) que fiz com
a equipe do centro médico. Foi um sucesso (afinal, era divertido!) e o moral
realmente começou a subir. Descobri então que o divertimento, a alegria, as
risadas e as brincadeiras são ferramentas de poder pessoal.
Desde aquele primeiro "playshop" há mis de 15 anos, venho
utilizando esse método e suas inúmeras variações em todos os tipos de
organização que se pode imaginar: empresas comerciais, companhias
multinacionais, fábricas, bancos, órgãos governamentais (inclusive
circunscrições militares), escolas, universidades e igrejas. Em todos os
lugares, o resultado é o mesmo. As pessoas adoram participar do programa e se
sentem com mais poder pessoal - contanto que a organização também se envolva.
Nas empresas que não se mostram dispostas a delegar poder aos funcionários, no
entanto, o humor não tem espaço e nem mesmo é permitido. Recentemente conduzi
um programa para montar equipes de novos funcionários temporários de várias
unidades de um serviço de atendimento ao público de um órgão do governo
norte-americano. Estavam previstas cinco semanas de treinamento interno para
esses funcionários e a formação das equipes seria feita por nós na primeira
delas, por meio de workshops de auto-empowerment.
Fizemos nossa parte e, no final, a avaliação dos participantes foi, em todas
as unidades, consistentemente 9,8 em uma escala de 10, com inúmeros
comentários positivos e agradecimentos generosos. Assim que fomos embora,
contudo, a gerência geral começou a sabotar o programa, jogando os
funcionários uns contra os outros, isolando-os, punindo comportamentos
brincalhões e alegres como se fossem nocivos. Mais da metade dos novos
funcionários desistiu do trabalho durante a segunda e a terceira semana de
treinamento e, dos 20 novos contratados, 17 foram para outras organizações nos
primeiros três meses. Da última vez que tive notícia, os três únicos
remanescentes estavam à procura de outro emprego.
O que explica essa evasão? A falta de alegria, prazer e humor destrói a
autoconfiança e a capacidade de trabalho das pessoas. Não existe possibilidade
de motivação nas organizações que não oferecem a seus funcionários um
ambiente propício ao desenvolvimento do poder pessoal.
Quem
anda rindo à toa?
Risadas e
brincadeiras contribuem para maior qualidade de vida dos funcionários e,
consequentemente, melhor atendimento aos clientes
"Os reis
tinham bufões, e não devemos esquecer que o bufão era a única pessoa que
podia se aproximar deles"
Empresas e organizações estão descobrindo a importância das risadas e
brincadeiras para criar ambientes mais produtivos. Elas contribuem para maior
qualidade de vida dos funcionários e, consequentemente, melhor atendimento aos
clientes. Qualquer organização consegue criar um ambiente desse tipo: basta
afiar as ferramentas do humor.
Em seu artigo The Good Humor Man, publicado na revista Twin Cities
Business Monthly, Phillip Bolsta faz referência a empresas que estão
chamando comediantes para ajudar os funcionários a relaxar e ensinar os
gerentes a incorporar o humor em seu estilo de gerenciamento. O trabalho desses
comediantes vai além do entretenimento: mostra o valor do bom relacionamento no
ambiente de trabalho.
Bolsta cita ainda Ann McGee-Cooper, uma consultora de Dallas que insiste na
necessidade de ter consultores externos pala ajudar os chefes a se tornar mais
alegres. Ela lembra que "os reis tinham bufões, e não devemos esquecer
que o bufão era a única pessoa que podia se aproximar deles".
Com base em meus 15 anos de experiência como consultora e conferencista sobre o
humor no local de trabalho, concordo com McGee-Cooper. Sou capaz de brincar com
dirigentes e fazer com que "caiam na real". Como não represento uma
ameaça, podem relaxar, demonstrar alegria e, no final, acabam percebendo que
esse é o caminho para melhorar a comunicação com seus funcionários. Estes,
por sua vez, exploram sua "criança interior" - aquela criança que
tem a crença inabalável de que "é possível fazer tudo que se quer neste
vasto mundo".
O
humor alivia a tensão
As pesquisas
mostram que alegria, risadas e brincadeiras estimulam a liberação de
substâncias químicas como endorfina e adrenalina, que aumentam a energia e a
sensação de bem-estar
Uma empresa de
tecnologia de ponta tem teatro de repertório, piscina e dança do ventre como
normas, além de um Comitê da Alegria
As pesquisas mostram que alegria, risadas e brincadeiras estimulam a liberação
de substâncias químicas como endorfina e adrenalina, que aumentam a sensação
de bem-estar e a energia. Não apenas abrem caminho para idéias e decisões
mais criativas como também as portas para a melhora dos relacionamentos, da
auto-estima, da saúde e do desempenho na busca da qualidade. A revista Psychology
Today tem afirmado em diversos artigos que os benefícios autênticos da
alegria foram tão comprovados que muitas empresas passaram a integrar a alegria
à cultura corporativa.
O especialista em administração Tom Peters e Tom Monaghan, fundador da
Domino's Pizza, são freqüentemente citados como dois homens que fizeram da
alegria parte integrante de suas organizações. Também vem ficando famosa pelo
bom humor a empresa de sorvetes Ben and Jerry que chega a investigar o
"quociente de humor" dos candidatos a vagas tão profundamente quanto
outras habilidades exigidas.
A empresa Odetics, fábrica norte-americana de produtos de tecnologia de ponta,
tem teatro de repertório, piscina e dança do ventre como normas. Joel Slutzky,
CEO da Odetics, justifica que a alegria e as risadas são indicadas para pelo
menos dois aspectos dos negócios: elevação do moral e aumento da criatividade
e da capacidade de inovação. A Odetics chega ao ponto de ter um de seus três
comitês dedicado à alegria. O resultado final da filosofia de Slutzky pode ser
comprovado pelo fato de a empresa ter conseguido apresentar resultados positivos
no terrível ano de 1985 - em que o setor registrou um péssimo desempenho nos
EUA. E isso com apenas 9% de rotatividade de pessoal, contra uma média de 21 %.
Com as empresas praticamente obrigadas a promover programas de melhoria
contínua, o humor torna-se cada vez mais essencial. Afinal, quanto maior a
demanda de qualidade, maior a tensão do pessoal de produção. Existem dados
mais do que suficientes para comprovar que a crescente pressão sobre o
trabalhador afeta negativamente a produtividade e os resultados financeiros
finais. Uma quantidade igualmente vasta de pesquisas demonstra os efeitos
positivos das risadas e do humor sobre os lucros devido à redução da tensão
e suas conseqüências (como problemas cardíacos, distúrbios digestivos,
gripes e outras doenças e lesões). A comunidade médica é unânime quanto ao
fato de que risadas e bom humor ajudam e fazem tão bem à saúde que contribuem
para a cura de doenças.
O
humor melhora os relacionamentos
Especialista no assunto, A. Meacham afirma em seus artigos que "a risada
também liberta as pessoas de outro tipo de tensão - a tensão
interpessoal". Essa seria a razão porque hoje muitos consultores altamente
qualificados especializaram-se em levar o humor ao local de trabalho. As
ferramentas de aptidões de comunicação, ou interpessoais, na dinâmica de
grupo são vitais para a sinergia da equipe e para a colaboração entre seus
integrantes. A diferença entre um grupo de trabalho que cumpre sua tarefa com
as pessoas tentando esganar umas às outras e um grupo que age como uma equipe
funcional e criativa é a colaboração por meio de relações interpessoais
positivas. Essa é simplesmente outra forma de descrever o empowerment em
equipes e organizações.
As aptidões interpessoais possibilitam a comunicação que vai além da
estrutura formal de recepção da mensagem, viabilizando o bom fluxo de
informações por todos os membros da equipe. Incluem fatores como correr
riscos, críticas construtivas, objetividade, capacidade de ouvir atenta e
ativamente, compreensão e reconhecimento dos interesses, gostos, aversões,
necessidades, desejos e realizações dos outros. Abrangem, acima de tudo, senso
de humor para transpor os muitos obstáculos que a equipe enfrentará na busca
da meta almejada.
As equipes bem-sucedidas devem definir normas claras de comportamento. O
consentimento de relações maduras de humor, por exemplo, dá a uma equipe
ferramentas de empowerment eficazes. Os componentes da equipe precisam
identificar o senso de humor como parte integrante da comunicação humana e
demarcar as fronteiras das brincadeiras aceitáveis e inaceitáveis. O que
parece engraçado para alguns pode ser incrivelmente doloroso para outros. Em
todo caso, a ridicularização e o sarcasmo são formas de humor inaceitáveis.
Peter Alsop, psicólogo e escritor de São Francisco, diz que "a
ridicularização é (parcialmente) uma maneira socialmente aceita de controlar
o próximo". Para quem reprime as emoções, é uma oportunidade para
liberar a risada, mas, por outro lado, destrói a autoconfiança. O sarcasmo é
a raiva disfarçada de humor e não é fruto de boas intenções, nem tem
virtudes redentoras. As equipes que tentam colaborar para criar um ambiente de
empowerment e confiança não precisam de ridicularizações nem de sarcasmos.
A expressão "bagunça organizada" é utilizada pelos autores R.E.
Lefton e V.R. Buzzota no artigo Teams and Teamwork: a Study of
Executive-Level Teams, publicado na revista National Productivity Review,
para designar o que fazem as equipes que trabalham de modo objetivo e franco. Os
especialistas afirmam que elas refletem sobre o que estão fazendo missão, modo
de operação, metas ou decisões estratégicas - de todos os pontos de vista
possíveis, o que dá oportunidade para interpretações equivocadas e conflitos
amenizados pelo humor. De fato, senso de humor ajuda a dispersar a hostilidade e
a raiva, abre a porta para soluções criativas com a participação de todos e
também para um melhor conhecimento do outro e das informações técnicas sobre
os objetivos da equipe.
Mais
criatividade e rapidez no aprendizado
Risadas, brincadeiras e um bom senso de humor melhoram a capacidade de
aprendizado: aprende-se mais rápido e fica mais fácil lembrar depois. Em um de
meus workshops, "Aprendizado Quântico" (Quantum Learning), os
participantes aprendem a ler com uma velocidade "astronômica". É
preciso ter a fé de uma criança brincalhona para dominar a técnica da
assimilação de informações extremamente rápida. Os participantes são
estimulados a lembrar como fizeram para entender o mundo, da primeira infância
até a época da pré-escola. Deixando aflorar a curiosidade e os recursos
naturalmente alegres de sua "criança interior", aprendem a ler um
livro em minutos ou horas em vez de dias.
A diferença é que as crianças usam tanto o corpo como a mente para aprender
sobre o ambiente em sua volta. Experimentam tudo, colocam os objetos na boca,
chegam, investigam se eles produzem ruídos usam, enfim, todos os orifícios
disponíveis no corpo. São um sistema de aprendizado de corpo inteiro fazendo
pesquisas criativas.
Depois de passar algum tempo em um sistema organizado de educação, grande
parte dessa pesquisa criativas se perde. O aprendizado fica restrito a poucas
áreas do cérebro e se torna compartimentalizado e linear. Na idade adulta as
pessoas se convencem de que não são mais criativas e oferecem poucas opções
para solucionar problemas. Perderam aquele forte sentimento de empowerment. É
essa atitude que levam para o trabalho que realizam. É a mesma atitude que
torna o trabalho enfadonho, um lugar de onde se quer fugir para ter diversão.
Frasier Morrison, diretor do Mortison Construction Group, foi um dos
empresários premiados pelo Scottish Business Achievenwnt Award Trust nos
últimos anos. Quando lhe perguntaram a que atribuía o sucesso da empresa,
declarou: "Ao nosso fantástico espírito de equipe". O primeiro fator
que Morrison mencionou corno contribuição ao espírito de equipe foi o senso
de humor. Referiu-se a uma tira de quadrinhos em particular como fonte de
inspiração dos grupos e prosseguiu: "Usamos a arte de forma intensa para
transmitir mensagens por toda a empresa e temos um livro completo de tiras de
quadrinhos que é distribuído por nosso programa de gestão da qualidade".
Como
ter mais alegria no trabalho?
Pense na alegria que você tinha quando criança e procure essa sensação no
ambiente de trabalho e em todos os outros aspectos da vida. Talvez seja apenas
necessário pendurar na parede suas tiras de quadrinhos favoritas, fotografias
engraçadas (não deixe de pôr uma foto sua), citações engraçadas ou
qualquer coisa que estimule sua veia cômica. Compre um maço de flores (no
supermercado mesmo) e enfeite sua mesa. Use uma roupa "especial" na
próxima reunião de trabalho, nem que seja roupa de baixo colorida sob o terno
ou vestido sóbrios. Abra a próxima reunião com uma "rodada de
piadas" e, antes de sair de casa pela manhã, dance de pijama na frente do
espelho para começar o dia sorrindo.
Encha sua vida de cuidados para mostrar a imagem que você faz de si mesmo.
Decore seu ambiente com itens que estimulem todos os seus sentidos. Convide a
sua "criança interior" a criar maneiras estimulantes de dar alegria a
seu trabalho e faça com que o fator humor esteja presente em cada tarefa que
realizar.
O Empowerment
in Organization
Jacqueline
Miller é consultora de Recursos Humanos em Burnsville, Minnesota, EUA.
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