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Edição: Cynthia
Rosenburg
O VOLUNTARIADO QUE DA
RESULTADO NA GESTÃO
 O dia do ganha-ganha
Por Suzana Naiditch
Num sábado de maio deste ano, os 400 funcionários da Tevah,
fabricante gaúcha de confecções masculinas, localizada na Zona Norte de Porto
Alegre, abriram mão de um dia de folga. Eles trabalharam para produzir mais de
8 000 peças para oito entidades assistenciais. Foi a quarta edição do chamado
Dia da Solidariedade, idealizado pelo empresário Daniel Tevah, diretor de
marketing da empresa. Mais do que uma amostra da preocupação da Tevah com a
responsabilidade social, foi um exemplo de como ações desse tipo podem ser
mais eficazes quando há delegação de poder. No Dia da Solidariedade são os
funcionários que coordenam todas as atividades. O objetivo é que, tomando as rédeas
do processo, eles aprendam sobre visão empresarial, organização e foco.
Naquele sábado saíram das máquinas de costura não os
tradicionais ternos, jaquetas e sobretudos de cores sóbrias da Tevah, mas capas
de colchão, edredons, pijamas e agasalhos infantis coloridos. A família Tevah,
dona do negócio, ofereceu a infra-estrutura da fábrica. Cerca de 20% da matéria-prima
foi doada por fornecedores. Num processo que começou com um mês de antecedência,
os funcionários tiveram de aprender um pouco de cada etapa da cadeia produtiva:
1 Análise
de mercado
Havia mais de 100 entidades assistenciais querendo receber as
doações. Um grupo de funcionários fez uma pré-seleção e visitou várias
creches, asilos e instituições pré-qualificadas. "Todos precisam de
ajuda, mas alguns precisam mais", diz Dirlei Gonçalves, 27 anos, revisor
de materiais da Tevah. "Também levamos em conta a organização e a
idoneidade da instituição."
2
Levantamento das necessidades dos clientes
Não adianta dar camisa para quem precisa de cobertor. Ou
edredon para quem quer pijamas. Um grupo fez um levantamento completo das reais
necessidades de cada entidade. "Temos de produzir algo que seja útil e prático",
diz Ruth Barrios, 59 anos, há 35 trabalhando como modelista da Tevah. O grupo
decidiu confeccionar palas, uma espécie de capa de lã, indumentária típica
dos gaúchos, para os idosos que têm dificuldade para se vestir. Eles também
precisaram observar detalhes, como o fato de os asilos trabalharem com
lavanderias industriais, que deterioram as peças rapidamente.
3
Desenvolvimento de produto
Para desenvolver produtos que fogem totalmente da linha da
Tevah, os funcionários fizeram benchmarking: compraram peças consideradas de
qualidade no mercado e montaram grupos para analisar a melhor forma de
produzi-las. Grupos multifuncionais determinaram desde a quantidade de tecido até
o tipo de costura. No caso dos palas, por exemplo, a experiência do funcionário
Pedro dos Santos, 49 anos, ajudou. Ele havia aprendido a confeccioná-las com um
alfaiate de sua cidade natal, Santa Rosa, na região missioneira do Estado, e
ensinou a técnica aos colegas. O grupo que faz 140 jaquetas todos os dias na
Tevah produziu 420 palas no sábado da solidariedade.
4 Produção
No Dia da Solidariedade, a produção mudou. Os funcionários,
acostumados a produzir apenas uma parte da peça, fizeram a peça inteira. E
também trocaram de funções. "A troca de posições ajuda o funcionário
a valorizar o trabalho do colega", diz Carlos Aurélio Donida, diretor
industrial da Tevah.
5 Controle
de qualidade e embalagem
Funcionários de vários setores passaram o dia da solidariedade
observando as peças à procura de defeitos, separando-as por tamanho e
colocando-as em caixas com os nomes das instituições beneficiadas.
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Distribuição
Uma transportadora parceira fez o transporte de graça, mas foi
um grupo de funcionários, formado por um representante de cada setor, que fez
pessoalmente a entrega dos produtos. "Nessa hora, eles fecham o ciclo
porque recebem o retorno do cliente", diz Donida. O gerente contábil Ivon
Costa participou da análise de mercado e da entrega das peças. "Quem está
num escritório de contabilidade não sabe o que acontece no mercado", diz
Costa. "Essa experiência despertou minha consciência e me tornou um
profissional mais completo."
Foto: Liane Neves
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