Edição: David Cohen

O NUMERO DE PROGRAMAS SOCIAIS DAS EMPRESAS AUMENTOU, MAS ELAS NÃO FALAM DO ASSUNTO
Fazem o bem, sem dizer a quem

Por Fábio Peixoto

As empresas brasileiras fazem mais ação social do que se imagina. Mas elas não gostam muito de falar do assunto. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). De 917 empresas ouvidas no Estado, 65% têm algum programa de ação social. Apenas 27% divulgam o que fazem. O crescimento das ações sociais surpreendeu os pesquisadores. Num levantamento feito em 2000, só 41% das empresas disseram atuar socialmente.

"É impressionante a quantidade de ações das quais a gente nem fazia idéia", diz Carlos Roberto Liboni, primeiro vice-presidente da Fiesp e coordenador da pesquisa. A baixa divulgação muitas vezes vem da falta de estrutura de marketing, principalmente nas pequenas e médias empresas. Mas 43% dos estabelecimentos não autorizaram nem mesmo a Fiesp a divulgar seus projetos sociais. "Isso indica que às vezes o silêncio é uma opção, e não falta de meios", diz Anne Louette, secretária executiva do Núcleo de Ação Social da Fiesp.

Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi o baixo número de empresas que se beneficiam com isenções fiscais por auxiliar a comunidade: só 9%. Muitas vezes, por pura falta de informação. Para reverter esse quadro, a Fiesp pretende criar um programa que ensine como as ações sociais podem ser feitas - e por que elas são uma vantagem competitiva. "O retorno é muito grande, em termos de mercado e de recrutamento de bons funcionários", afirma Liboni, citando que 45% das empresas disseram ter ficado mais conhecidas na comunidade após ações sociais.

Os setores que recebem mais recursos empresariais são saúde e educação. O método de ação varia com o porte: enquanto 90% das pequenas empresas fazem contribuições a programas conduzidos por terceiros (como creches ou ONGs), 56% das grandes contam com projetos próprios. É o caso da Nestlé, que no ano passado investiu 1 milhão de reais no Nutrir, programa educacional de combate à desnutrição. Cerca de 50 000 crianças foram atendidas com aulas sobre como utilizar melhor os alimentos. Metade dos recursos foi doada pelos funcionários.

Projetos sociais dessa envergadura são inatingíveis para um pequeno ou médio empresário. Mas Anne Louette ressalta que pequenas iniciativas podem ser muito importantes - e custar pouco. A fábrica de autopeças Magal, empresa de médio porte de Monte Mor (SP), não gasta quase nada com seu programa. Os funcionários separam o lixo, que é vendido para reciclagem. O dinheiro é repassado para escolas ou para a biblioteca municipal. "Muitas pessoas carentes costumavam vir aqui pedir ajuda", diz Aristides Sandalo Júnior, gerente de RH. "Juntamos isso ao problema de como lidar com o lixo e tivemos a idéia do programa de reciclagem."

Liboni ressalta que as ações sociais são importantes, mas não podem ser tratadas como sinônimo de responsabilidade social. "Não adianta construir uma creche e poluir o único rio da cidade", diz. "Uma empresa só tem o direito de sobreviver se entrega à sociedade mais do que tira".